Notícias

Bancos baixam juros

Caixa Econômica e BB reduzem taxas. Para Selic, a aposta é de corte de 0,5 ponto percentual

Vicente Nunes

 

A Caixa Econômica e o Banco do Brasil avisaram ao presidente Lula que vão anunciar, entre hoje e amanhã, uma nova rodada de redução dos juros cobrados dos consumidores e das empresas. O movimento está relacionado ao esperado corte da taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de 0,5 ponto percentual, nesta quarta-feira. A expectativa do governo é de que a ação da Caixa e do BB force os bancos privados a seguirem na mesma direção — o que se viu nos últimos meses — tornando o crédito mais acessível.

A Caixa informou que a queda a ser anunciada hoje será a sétima do ano e faz parte de sua estratégia de ampliar espaço no mercado. Desde que adotou essa postura mais agressiva, por determinação de Lula, a instituição está atraindo clientes que só operavam com os bancos privados, muitas deles, empresas de médio e grande portes. Segundo o vice-presidente de Finanças da Caixa, Marcio Percival, há pedidos de empréstimos para o setor produtivo sendo analisados num valor próximo de R$ 9 bilhões. Esse dinheiro será usado para o reforço de capital de giro e para investimentos das companhias.

No BB, o anúncio só será feito depois da decisão do Copom. Em recente entrevista ao Correio, o vice-presidente de Novos Negócios e Varejo da instituição, Paulo Roberto Cafarelli, afirmou que o corte dos juros pelos bancos públicos é natural, pois essas instituições vêm tendo papel preponderante na ampliação da oferta de financiamento ao consumo e ao setor produtivo. Nos primeiros meses que se seguiram ao estouro da crise mundial, até mesmo o BB e a Caixa restringiram o crédito e aumentaram os juros.

Pelos cálculos do presidente do BC, Henrique Meirelles, ao partirem para o ataque, os bancos públicos aumentaram em 20,8% a concessão de crédito entre setembro de 2008 e maio. No mesmo período, os empréstimos realizados pelas instituições privadas nacionais cresceram apenas 3,7% e os fechados pelos bancos estrangeiros avançaram 2,5%. Foi a presença mais ativa dos bancos públicos, por sinal, um dos motivos de a demanda ter se mantido firme nos últimos meses, sustentando as vendas do varejo.

Fim de um ciclo?
Apesar do consenso do mercado de que a Selic cairá pelo menos 0,5 ponto amanhã, há uma divisão entre os analistas quanto à continuidade ou não do ciclo de redução dos juros iniciado em janeiro último — desde então, a Selic recuou 4,5 pontos, de 13,75% para 9,25% ao ano. Para o economista Maurício Molan, do Banco Santander, será mais prudente o Copom dar por encerrado o afrouxamento monetário depois da queda dos juros amanhã. A seu ver, “cortes adicionais tendem a ser contraproducentes, já que o mercado está vendo a economia em recuperação robusta, um sinal de inflação resistente. A tendência, segundo ele, é de a Selic cair e as taxas futuras de juros, que servem de parâmetro para a formação do custo dos empréstimos, subirem, prejudicando a retomada da atividade.

Na avaliação de Sandra Utsumi, diretora da Renda Fixa do Banco BES Investimento em Portugal, o espaço para a baixa da Selic continua aberto, independentemente dos sinais de recuperação. “É possível que os juros caiam 0,5 ponto agora e mais 0,25 ponto em setembro.” No seu entender, nem mesmo a alta na previsão de inflação para este ano, de 4,50% para 4,53%, na pesquisa Focus justifica uma pausa no corte. “Além de a inflação no Brasil estar sob controle, a economia mundial vai demorar um bom tempo para se recuperar, afastando o risco de um movimento coordenado de alta de preços”, assinalou.

Essa visão é compartilhada pelo economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho. “A tendência da inflação é de queda. Aposto que o IPCA fechará este ano em 4,4%”, disse. Ele espera que o Copom baixe a Selic em 0,5 ponto amanhã, corte mais 0,5 ponto em setembro e ainda promova uma baixa de 0,25 ponto em outubro. Segundo o economista Amir Khair, o BC tem a seu favor, para manter a queda dos juros, a forte deflação dos índices gerais de preços (IGPs), que corrigem a maior parte dos preços administrados (tarifas públicas).


INFLAÇÃO

Apesar de um cenário de baixo ou nenhum crescimento em 2009, os especialistas ouvidos pelo Banco Central na pesquisa Focus de mercado projetaram uma inflação de 4,53%, acima do centro da meta de 4,5%. Dos quatro índices (IGP-DI, IGP-M, IPCA e IPC-FIPE) de preços avaliados, apenas os dois primeiros foram revisados para baixo. O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, reflete que a projeção de alta acompanha reajustes recentes nos preços administrados (taxas de água, luz, passagem de ônibus), que ficaram acima do que o mercado esperava para o ano. (Deco Bancillon)

 
E EU COM ISSO


Taxa de juros em queda é um excelente negócio para todo mundo. Quem comprar uma geladeira a prazo, por exemplo, terá prestações menores, abrindo espaço no orçamento para mais consumo ou para a poupança. Quando o Banco Central reduz a taxa básica (Selic), a tendência é de todos os bancos e financeiras seguirem na mesma direção. Mas fique esperto. Muitas vezes, essas instituições afirmam que baixaram os juros acompanhando o BC e, na verdade, a queda foi insignificante. Por isso, pesquise muito as taxas antes de fazer qualquer empréstimo ou crediário. (VN)

voltar